RECREAÇÃO NOS PROGRAMAS DE (RE)HABILITAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Por Lia t. Hoffmann e sonia b. Hoffmann


O ser humano tem uma forte tendência para relacionar a deficiência principalmente à tristeza, ao sedentarismo e às perdas, como se a pessoa com algum impedimento ou dificuldade visual, auditiva, motora ou mental estivesse incapacitada para a administração desta problemática de uma outra forma alternativa ou por rotas que a ela permitam a interação com o ambiente.

Em acréscimo, muitos são os profissionais que vinculam deficiência com doença e consideram ser o tratamento terapêutico ortodoxo suficiente para resgatar nos indivíduos com comprometimento motor, sensorial ou intelectual a potencialidade para a vivência, a descoberta e confiança nas possibilidades e habilidades do seu corpo, a conquista da autoestima e a melhoria da autoimagem.

Contrariamente a este posicionamento, muitos daqueles que trazem em si as marcas e as faltas resultantes da deficiência demonstram insatisfação diante das atividades mecanicistas e meramente condutistas oferecidas e percebidas como monótonas. Como consequência, não raro, desenvolvem acentuadamente a apatia ou a impaciência - especialmente quando não percebem mudanças significativas em seu quadro clínico ou não são devidamente motivados e informados das etapas e dos resultados esperados.


Nossas observações e vivências como profissionais e investigadores na área do movimento, do exercício e da atividade física têm-nos mostrado que a solicitação ou a espera por um espaço no qual a alegria, a criatividade e o movimento lúdico sejam preponderantes são atitudes externalizadas com frequência e constância pelas pessoas com deficiência. Estes componentes são facilmente encontrados nas mais variadas opções de atividades recreativas.

Em diversas situações e quando necessário, o próprio profissional pode se tornar um coparticipante efetivo e atuante a fim de organizar estrategicamente a construção da atividade a ser desenvolvida individual ou coletivamente. Este papel, conforme a idade ou o grau de limitação da pessoa com deficiência, pode ser também realizado por um familiar, amigo ou algum outro social sem que, para isto, sinta-se em posição superior ou de favorecimento.

deste modo, jogos (de mesa ou de campo), dança e competições, entre outros desafios, provocam muitas vezes nestes indivíduos verdadeiros comportamentos de engajamento e absorção pela atividade. Repetidamente, o esquecimento daquelas limitações elaboradas culturalmente acontece e a tolerância para a realização de atividades físicas ou motoras é naturalmente obtida, quando, em momentos terapêuticos ortodoxos esta condição não seria alcançada.

Nesta perspectiva, percebemos também que a própria antecipação temporal, pelo pensamento, do encontro com o grupo e/ou com o profissional de Educação Física, fisioterapia, terapia Ocupacional ou outro profissional da saúde parece ser, aliado à possibilidade do estabelecimento de novos intercâmbios sociais e comunicativos, importante fator de melhoria do humor e da autoestima do indivíduo em causa.


Além disto, associados aos benefícios fisiológicos produzidos, melhorias na organização psíquica como um todo e a melhor administração dos ganhos e perdas são constatadas quando o indivíduo com deficiência vivencia o companheirismo, a cumplicidade e a participação ativa na atividade recreativa proposta pelo profissional, pelo grupo ou por ele mesmo.

Assim, consideramos que as atividades recreativas devam ser incluídas nos programas de (re)habilitação das pessoas com deficiência, nas diferentes faixas etárias, sexo e situação socioeconômica, como estratégias de integração, de inclusão e de tratamento motor e psicossocial deste indivíduo e, possivelmente, do seu grupo familiar e comunitário de pertencimento devido a ampliação da coparticipação, corresponsabilização e acolhimento.


Deste modo, acreditamos que os propósitos dos processos de habilitação e reabilitação possam ser alcançados com maior satisfação, alegria, naturalidade e eficácia para todos aqueles que neles estejam envolvidos.


       Outubro de 2001

[PERMITIDA A DIVULGAÇÃO E A REPRODUÇÃO DESTE MATERIAL DESDE QUE CITADA A FONTE]


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