MUSIBRAILLE - UM PROGRAMA PARA ENSINAR MÚSICA PARA PESSOAS CEGAS
Software Musibraille

Será lançado no mês de julho, em Brasília, o Software Musibraille. O programa, criado pela coordenadora do Curso de Musicografia Braille da Escola de Música de Brasília, Dolores Tomé, e pelo professor Antônio Borges do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem o objetivo de melhorar a situação do estudante com possibilidade de transcrição automatizada de textos musicais a partir do papel. O compositor ou arranjador cego também será beneficiado na medida em que suas obras poderão ser geradas na forma bi-modal (em Braille e em tinta) sendo consumidas também por músicos que não dominam a técnica Braille.

"O projeto MUSIBRAILLE destina-se a criar condições favoráveis à aprendizagem musical das pessoas com deficiência visual que sejam equivalentes as dos colegas de visão normal", explica Dolores.

Com o apoio do Governo Federal e dos governos estaduais, será realizado gratuitamente um curso de capacitação para profissionais de educação musical que pretendem trabalhar com músicos e estudantes cegos e criar e manter biblioteca virtual de músicas em Braille.

"O ineditismo do projeto já justifica a sua execução, cabendo destacar que será o primeiro software da Língua Portuguesa para a transcrição de partituras em Braille, podendo ser adotado por outros países lusofônicos", diz Dolores.

A intenção do projeto é melhorar e ampliar as possibilidades do músico cego no mercado de trabalho, incluída aí a atividade de ensino de música em suas múltiplas vertentes e permitir a troca de conhecimento e divulgação de obras por meio de biblioteca musical Braille instalada na página da internet onde o programa ficará disponível para cópia gratuita.

A inclusão social é uma das principais resultantes do projeto. A técnica de Musicografia Braille é uma das principais ferramentas que permitem essa equivalência. Ela foi desenvolvida em 1828 por Louis Braille (Francês), que adaptou a técnica para transcrição de textos também desenvolvida para a transcrição musical. Através desta técnica, um texto musical de qualquer complexidade pode ser transcrito para a forma tátil e facilmente assimilado pelos deficientes visuais. O projeto Musibraille destina-se a criar condições favoráveis à aprendizagem musical das pessoas com deficiência visual que sejam equivalentes as dos colegas de visão normal. Segundo Dolores, existem poucos programas de computador disponíveis no mercado para transcrição musical em Braille e, para o contexto brasileiro, esses programas estão fora da realidade uma vez que, além de caros, são incompletos e não emulam voz em português, impedindo a disseminação da utilização direta ou como ferramenta de ensino qualificado.

"Além disso, como os professores de música não têm conhecimento da Musicografia Braille, recusam os estudantes por julgarem impossível o aprendizado da partitura musical com efetividade."

O Software Musibraille será distribuído nas oficinas de capacitação que serão realizadas em uma Capital de cada uma das regiões geográficas do Brasil. Também será distribuído gratuitamente por meio de página na internet onde os beneficiados, professores, alunos cegos e o público em geral, poderão baixar cópia do programa. Além do Software Musibraille, serão distribuídos, no curso de capacitação, o livro em tinta para os professores e o caderno de exercício em braille para o professor aplicar ao aluno cego, ou vice versa.

"Esperamos ter um grande número de pessoas interessadas no curso, tanto para professores de música, quanto para músicos cegos e arte educadores. Queremos, com esse projeto, dar a oportunidade para pessoas cegas terem as mesmas ferramentas das pessoas com visão normal, lendo partituras, escrevendo e compondo e mais do que tudo, tendo o ingresso nas Universidades, Faculdades e Conservatórios de Música com igualdade de oportunidades profissionais."

O curso de capacitação já está programado para ser realizado nas seguintes regiões: Centro-Oeste - Brasília: de 7 à 10 de julho na Biblioteca Nacional de Brasília Nordeste - Recife: 03 à 07 de agosto na Biblioteca Pública do Estado de Pernambucana da Secretaria de Educação do Estado. Norte - Belém: de 01 à 05 de setembro na Universidade Federal do Pará. Sudeste - Rio de Janeiro: 05 à 09 de outubro no Instituto Benjamim Constant - IBC. Sul - Porto Alegre: de 09 à 13 de novembro (a definir).


Projeto MusiBraille - Equipe responsável

Dolores Tomé

Dolores Tomé é coordenadora do Curso de Musicografia Braille da Escola de Música de Brasília, desde 1986. É flautista licenciada em Educação Musical pela UnB, Master in Science em Musicografia Braille, pela Universidade Internacional, Lisboa - Portugal. É filha de João Tomé, músico cego, com quem aprendeu as primeiras noções do Braille.

Funcionário Público da Rádio Nacional, João Tomé nasceu cego e foi criado para ser um homem sem complexos, preparado para a vida. Foi um músico de reconhecida habilidade, deixou como patrimônio musical cerca de 400 composições de sua autoria: valsas, polcas, choros, sua especialidade maior. Chegou em Brasília em 1960. No mesmo ano, como Professor, funda o Colégio de Brasília (CASEB). Em 1963, funda a Escola de Música de Brasília. Assim familiarizada com a rotina musical de seu pai, Dolores aprendeu que o deficiente visual não é dotado de poderes mágicos, nem possui memória extraordinária. As conquistas dos deficientes visuais significam árdua conquista para o cego. Para os videntes, simples rotina de condicionamento.

Com sua vocação para o magistério e estimulada pelo exemplo paterno, Dolores Tomé resolveu se dedicar ao ensino de música para os cegos. Sua dedicação faz com que os deficientes consigam se impregnar de uma das mais belas das artes: a Música. A arte que não conhece barreiras de idiomas e que, segundo alguns, é a forma como Deus se comunica com os homens.

"A educação fornece aos deficientes visuais melhores meios para ganhar a vida", escreve Dolores Tomé em sua tese de Mestrado. E, da teoria à prática, vive em constante investigação sobre os portadores de deficiência visual - cegos e de baixa visão - pesquisando a melhor forma para resgatar a cidadania dessas pessoas.


José Antonio Borges

José Antonio Borges, embora vidente, concentrou seus esforços e conhecimentos de computação em um projeto de ensinar deficientes visuais a usar o computador. Hoje, o Projeto DOSVOX é uma realidade nacional e internacional, pois é um Sistema Operacional para Deficientes Visuais que primeiro sintetizou, vocalmente, textos genéricos na Língua Portuguesa.

José Antonio é o Coordenador do Projeto DOSVOX, do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor do sistema Braille Fácil. O sistema Braille Fácil é o Sistema mais utilizado para impressão Braille, no Brasil, e foi produzido para o Instituto Benjamin Constant, com apoio do FNDE.

Por uma feliz e produtiva parceria com Dolores Tomé, José Antonio está desenvolvendo o Projeto Musicografia Braille.

Incansável, José Antonio também coordena um outro projeto, o MOTRIX, que permite que o computador seja controlado apenas pela voz, para uso por portadores de deficiências motoras graves.

Para obter mais informações sobre os programas mencionados, acesse:

http://intervox.nce.ufrj.br/musibraille/equipe.htm

[Reportagem extraída do Boletim Sentidos de 24/4/2009]


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