SAPATOS E BENGALAS
Laura entra em casa como um "tufão". Joga suas coisas sobre a mesa da sala e corre para o telefone, ansiosa para contar à sua amiga as novidades do seu encontro com Marcelo.

- Calma aí, mocinha, diz sua mãe. Antes leve suas coisas para o quarto, porque precisamos arrumar a sala para o jantar de hoje com alguns amigos.

Pedro, seu pai, chega em casa alguns minutos depois e vai ao quarto de Laura lhe "dar um oi". Ele fica horrorizado com a montanha de roupas, bolsa e bengala da filha espalhadas pela cama.

- Laura, minha queridinha, que tal começar a colocar seus tênis e sapatos também sobre a cama, a mesa da sala, o sofá e onde mais quiser?

- Ui, que nojo, papai!

- Nojo, por quê?

- Ora... pisamos em sujeiras, até mesmo em cocô de cachorro sem perceber. Nossos calçados ficam com bactérias e micróbios.

- É!? E você usa sua bengala para caminhar, não é mesmo?

- Às vezes, quando conheço o caminho ou estou com alguém, guardo a bengala na bolsa ou a seguro na mão, dobrada.

- E as bactérias, micróbios e outras sujeiras ficam na sua mão e dentro da bolsa?

Laura não entendia onde seu pai queria chegar com aquela proposta absurda. Por isto, resolveu perguntar a ele o motivo disto tudo.

- Ora, Laura, quando você usa a bengala para a auxiliar em sua locomoção, a ponteira dela fica no chão, como um sapato, tênis, chinelo e sei lá mais o que...

Ela refletiu por alguns segundos e perguntou:

- Então é por isto que aconselham a guardar a bengala "aberta" atrás da porta ou em algum outro bengalódromo?

- Pelo menos é o que eu aconselharia como sanitarista. E diria também que essa bengala deve ser lavada ou limpa com frequência, porque nela ficam acumuladas sujeiras, resíduos da poluição e tantas outras poeiras. Mesmo onde você segura a bengala, a empunhadura, fica bastante sujo porque tudo isto se mistura com o suor do contato da mão.

- Argh!... E ontem eu deixei minha bengala dobrada em cima do meu travesseiro.

- Pois é, madame. A senhorita fica tão preocupada com banhos, perfumes e roupas limpas, mas esquece de lavar as mãos e cuidar melhor da bengala.

- Cuidar melhor da bengala, além de limpá-la de vez em quando?

- Exatamente, minha filha. Não esqueça de que esta bengala é o prolongamento do seu corpo. Se você cuida bem do corpo, também deve cuidar bem da sua bengala, deixando-a sempre apresentável e em boas condições.

Laura lembrou-se imediatamente da batida que dera com a bengala em um muro no dia anterior, aumentando ainda mais a curvatura na sua parte inferior, devido a um "atropelamento" por um pedestre que pisara sobre a bengala, porque estava muito apressado e não vira a garota na calçada.

"Acho que ela está muito torta! Sua aparência deve estar horrível... Preciso consertar isto", pensou ela.

- Tenho uma amiga que gosta de enfeitar a bengala, colocando algum adesivo diferente, fita e até já pensou em ter bengalas de várias cores para combinar com sua roupa ou com seu astral!

- E por que não, Laura!? Quem sabe isto iria motivar mais crianças e adolescentes a usarem a bengala!?

- O senhor, se precisasse, usaria uma bengala colorida?

- Desde que fosse com as cores do meu time de futebol, para as situações mais esportivas. Para um encontro social, uma bengala com alguma cor que me desse várias opções de combinação. No trabalho, eu usaria uma bengala de cor mais neutra; e, nas festas, teria uma bengala tão elegante quanto eu!!!

- Que privilégio ter pais tão "pra cima", sempre prontos a me incentivarem e apontarem caminhos, disse Laura, abraçando seu pai.


Texto de Sonia B. Hoffmann
Porto Alegre, abril de 2009

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